segunda-feira, 31 de março de 2014

Sócrates e Rodrigues dos Santos - a frio por Henrique Monteiro

Confesso que não vi Sócrates em direto. Nem no dia seguinte, nem na terça-feira. Mas a possibilidade que as operadoras hoje nos oferecem de ver programas de há vários dias proporcionou-me a possibilidade de o ver... a frio.
Na altura estava já influenciado por uma enorme polémica que ia desde a cilada montada ao pobre ex-primeiro-ministro, até ao desmascaramento total do ex-líder do PS.
Devo dizer que não vi uma coisa nem outra.
Até a célebre frase "eu não vim preparado para isto", dita por Sócrates, foi mal enquadrada na maioria dos relatos (seria bom que os jornalistas entendessem que o enquadramento da frase é importante). Sócrates disse não estar preparado para, de um fôlego, enumerar todo o investimento estrangeiro que o seu Governo tinha conseguido trazer para Portugal. Do meu ponto de vista, foi apenas isso.
Rodrigues dos Santos fez aquilo que é normal um jornalista fazer - apanhar o político em contradições. Tal facto, só num país pequeno e tacanho pode ser visto como algo desleal. Claro que há um problema levantado por várias pessoas - são lícitos programas em que se coloca um jornalista a fazer de animador, sem que o jornalista cumpra o seu papel, mas apenas introduza os temas sobre os quais o opinador deseja pronunciar-se? Do meu ponto de vista, se a ideia é essa, não há necessidade de um jornalista. Se a ideia é ter um jornalista, ele deve contrapor, quando pode, fazer sobressair contradições no discurso, apanhar o político fora de pé. Chama-se a isto esclarecer.
De resto, Sócrates saiu-se bem (sou insuspeito para o dizer, porque tive vários problemas com ele na altura em que foi primeiro-ministro). Naturalmente, aqui e ali viu-se que dizia uma coisa no poder e outra na oposição, mas conseguiu sempre explicar (concorde-se ou não com ele) que a austeridade que o PS e o próprio defenderam era complementada por programas de investimento. E chegou a marcar pontos importantes sobre o crescimento da economia no país em 2010 (último ano completo que presidiu ao Governo).
Moral da história - eu que achava o programa uma espécie de comício sem interesse, achei-o bastante melhor e interessante. Não porque fosse uma cilada, mas porque Sócrates sai-se melhor quando está acossado. Se fosse perverso diria que tinha sido uma estratégia combinada para aumentar audiências que não andavam famosas. 
Veremos o que faz hoje o partenaire alternante, João Adelino Faria...


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