terça-feira, 21 de maio de 2013

Barack

Os olhos estavam postos em Washington naquele 20 de Janeiro de 2009. Tomava posse o primeiro afro-americano presidente dos Estados Unidos. O discurso, a novidade, e a esperança no trabalho do novo líder americano deixavam o mundo expectante e ansioso.

Em foreign policy, ansioso por resoluções no Afeganistão e no Iraque, pelo desarmamento nuclear no Irão, pelo encerramento da prisão de Guantanamo...


Como Presidente, durante estes últimos anos, e em questões internas, Obama criou políticas de impulso económico como a Lei de Reinversão e Recuperação de 2009, a Lei de Criação de Emprego, a reautorização do seguro de desemprego em 2010. Outras iniciativas políticas domésticas incluíram a Lei de Protecção ao paciente e os cuidados de saúde, o famoso Obamacare. Em finanças criou a Lei Dodd-Frank de protecção aos consumidores, etc. 

Em política internacional, acabou mesmo com a guerra do Iraque, anunciou este ano a retirada das tropas do Afeganistão para 2014, assinou o novo tratado START III de controlo de armas com a Rússia e ordenou a intervenção militar na Líbia de Kadafi em 2011. No mesmo ano anunciou a morte de Bin Laden, outro dos seus grandes desafios.

Para este segundo mandato, Obama quer expandir o seu programa de saúde, uma das suas grandes vitórias. Quer legalizar ainda o casamento homossexual, que ainda só é possível em alguns estados. 

A reforma migratória também é prioridade, assim como a lei das armas que há pouco tempo foi negada pelos republicanos no Senado. A lei consistia numa maior verificação antecedentes criminais dos compradores de armas. A oposição tem sido um osso duro de roer para o presidente nas tomadas de decisões. Assim se previa.

Em matéria exterior, uma maneira de forçar a negociação com o Irão para o desarmamento seria arrebatar o seu grande aliado na zona: a Síria. No entanto, a tentativa de obter uma resolução no Conselho de Segurança contra o regime e acabar assim com a guerra não deu frutos, devido a oposição da China e da Rússia, que não querem intervenção como a que ocorreu na Líbia. A solução que se via há uns meses seria a de Obama tentar oferecer saída a  Bachar Al Sad e garantir uma transição no país. Mas a situação só tem piorado, e não há solução à vista. Também de Obama, neste segundo mandato, ainda se espera um papel mais activo no inexistente processo de paz entre Israel e a Palestina. 

No meio de algumas vitórias e de algumas tardias decisões a popularidade de Obama vai caindo há já algum tempo. 


E somado a isto, os escândalos das últimas semanas não têm ajudado. Já este mês, o Presidente dos Estados Unidos, anunciou a demissão do director do departamento de impostos, Steve Miller, devido à discriminação fiscal contra os grupos republicanos conservadores conhecidos por Tea Party. O assunto obrigou Obama a falar em público para defender a sua Administração das críticas sobre a matéria e ainda sobre a acusação de espionagem à agência Associated Press. O Departamento de Justiça recolheu registos de chamadas de 20 linhas telefónicas de jornalistas da agência.

As relações com a Rússia também estão frias. A semana passada as autoridades russas emitiram uma ordem de expulsão contra um diplomata da CIA que tentava recrutar agentes russos.

A isto junta-se ainda aquele atentado na Líbia, em 2012, que resultou na morte do embaixador americano. Terá sido mesmo premeditado?


A vida não está fácil, mas também ninguém disse que o ia ser. 

A propósito num artigo do Foreign Policy do dia 20 de Maio:

"The relentlessness of the job, the 24/7 pace of the media, the complexity of the tasks at hand, and the sheer number of moving parts creates a situation no single individual can manage. Add to this a polarized Congress and an integrated world that America can't control, it's no wonder the presidency is an impossible, perhaps implausible, job.
The current headaches Obama confronts at the State Department (Benghazi), at Treasury (IRS targeting conservative groups), at Justice (the seizure of Associated Press phone records), and Defense (sexual harassment) may well represent a bad combination of mismanagement and bad luck. But they also reflect the reality that Obama, to paraphrase Ralph Waldo Emerson, is not a master of all he surveys. The presidency is just too big and complicated for that. "

(...) 

"What to do? Just get over it. Lower expectations. Don't give up the search for quality leaders, but be honest about what a president can and cannot do. Don't wait around to be rescued by The One -- that's not the American way. Maybe by controlling our presidential fantasies, we can stop expecting our presidents to be great, and allow them to start being good."

Também sobre a presidência de Obama esta semana no Folha de S. Paulo: 

"Grampos a jornalistas, investigações fiscais a opositores políticos, incompetência (e possível encobrimento) nos atentados da Líbia: qualquer um dos escândalos chegava e sobrava para definir uma Presidência. Os três juntos, para acabar com ela. Isso, claro, se Obama fosse um político como os outros.

Não é. Em 2008, os americanos não elegeram apenas um presidente. Eles canonizaram em vida um homem que já virou santo. E os santos não pertencem mais a este mundo."

3 comentários:

  1. Bom artigo!

    Quanto ao Obama... Ficará para a História não pelo que fez enquanto presidente dos EUA, mas por ter sido o primeiro presidente afro-americano da história desse grande país. Não será nenhum Lincoln, nem nenhum Reagan (ou, para relembrar o texto do J. Pereira Coutinho) nenhum Nixon. Por outro lado, encontro alguma injustiça nas críticas que lhe são feitas. Quem o critica é quem se iludiu com a sua eleição, porque chegou depois do G. W. Bush e num período de vários conflitos e desgaste da imagem dos EUA. O nobel dado sem razão concreta é prova dessa ilusão. Lembra-me a reacção de algumas pessoas em relação ao novo Papa. Excedem-se agora nas ilusões, em breve irão exceder-se nas críticas.

    Continua, estou a gostar de te ler.

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  2. "Maybe by controlling our presidential fantasies, we can stop expecting our presidents to be great, and allow them to start being good."
    Espionagem sempre existiu, sempre existira. Assim como as criticas, que invariavelmente aumentam e se tornam mais duras para as maiores ameaças. Obama sabe o que de bom se espera dele. E, como em todas as épocas, ha mais movimento para aniquilar aqueles cheios de potencial e de ideias e de forca. Ninguem disse que ia ser fácil, mas por continuarmos a pô-lo num pedestal, não ajudamos. Apenas aumentamos a vontade dos outros de o derrubar.

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  3. Bom artigo, Rita.

    O problema do Obama é sem dúvida o de a comunidade internacional ter esperado demasiado de alguém que no limite é um homem ocm mais coragem do que muitos. Mas nao é santo e nao esta nem pode estar isento de críticas quando lidera uma democracia. É tal e qual como dizes: ninguém disse que ia ser fácil. Mas overall, e sobretudo na complicada política externa amereicana, acho que balanco a fazer será sempre muito positivo.

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