Há sempre tempo para passar em filas para comprar bilhetes para jogos de futebol, mas não há 5 minutos para exercer um direito que custou tanto a ganhar.
Há também que explicar aos portugueses a importância destas eleições, a importância dos assuntos e das leis que são debatidas no Parlamento Europeu. Infelizmente, não há consciencialização acerca dos assuntos da UE.
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Estavam mais de nove milhões inscritos para votar nas eleições europeias e escolher os 21 eurodeputados que vão representar Portugal no Parlamento Europeu. Mesmo contando com a chamada abstenção técnica (diferença entre os eleitores inscritos e os que realmente se encontram no local), mais de seis milhões não se deram ao trabalho de ir votar, o que resultou numa taxa de abstenção superior a 65%, a mais elevada de sempre. Não é propriamente uma surpresa, mas é o facto mais relevante da noite eleitoral. Ao contrário do apelo que foi feito por Cavaco Silva, os portugueses continuam a olhar para as europeias como eleições que não têm impacto directo no seu dia-a-dia. E a forma como foi feita a campanha eleitoral — pouca discussão sobre temas europeus e muitos insultos — não ajudou a mobilizar o voto.
A fraca participação dos eleitores não retira legitimidade aos resultados, e o vencedor das eleições foi o Partido Socialista. Tendo sido a força política mais votada, a percentagem de votos conquistados e a diferença face à Aliança Portugal permitem aos socialistas reclamar uma “grande derrota da direita”, mas não uma grande vitória do PS. Uma grande vitória foi aquela obtida em 2004, quando também concorria contra uma coligação PSD/CDS e conseguiu 44,53% dos votos. O resultado de ontem não permite a António José Seguro antecipar o calendário eleitoral. Seguro prescinde da moção de censura — que, dado a maioria PSD/CDS no Parlamento, teria apenas um valor simbólico — e atira uma decisão de antecipar eleições para Cavaco Silva. Mas os resultados não têm expressão para que Belém possa interromper a legislatura.
O PS não conseguiu capitalizar o voto de protesto contra o Governo. Mas os partidos que apoiam o Governo são bastante penalizados pelo voto de protesto. A Aliança Portugal (coligação PSD/CDS) não chega aos 30%, sendo que nas eleições anteriores de 2009 o PSD sozinho tinha conseguido 31,71% e o CDS 8,36%.
E para onde foi o voto de protesto? Bastantes terão com certeza ido para o MPT – Partido da Terra de António Marinho e Pinto, que foi a grande surpresa da noite. Recusa que lhe seja colocado o rótulo de populista, mas foi o discurso antipolíticos e anti-sistema que lhe terá rendido bastantes votos. O outro grande vencedor foi a CDU, que vê a direita a perder, consegue travar o PS, como ainda reduz o Bloco a uma posição quase insignificante.
No conjunto da Europa, a direita do PPE ganhou, embora com um resultado muito inferior ao obtido há cinco anos, sendo que os socialistas se mantiveram como a segunda grade família política. Confirmou-se uma invasão do Parlamento Europeu por mais de uma centena de eurocépticos, sendo o caso mais preocupante para quem acredita no projecto europeu o da Frente Nacional, que ganhou as eleições em França com base num discurso de recusa do euro e de fechar o país à imigração.
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