"(...) A questão mais controversa que eles colocam aos cidadãos e aos responsáveis políticos que somos é, muito simplesmente: queremos viver numa Europa sem alma?
Nós devemos escutar esta interpelação. A própria ideia de Europa começou por ser defendida por gerações de escritores, artistas e intelectuais. São eles que tiveram a coragem e a lucidez de querer a união dos povos, mesmo na altura em que se dilaceravam. Hoje, devemos prestar atenção àqueles que são os seus herdeiros e mostrarmo-nos, nós próprios, dignos dessa herança.
Se esta interpelação nos é lançada agora, é porque a Europa chega a um momento chave da sua história, que compromete o seu futuro como terra de cultura e de criação. No plano económico, evidentemente, porque a Europa acaba de enfrentar uma crise, da qual estamos agora a sair, mas que teve consequências desastrosas sobre o financiamento à criação em toda a Europa. No plano tecnológico, devido à emergência do digital que revoluciona, em todos os países, os modos de difusão mas também de produção e criação. Por fim, no plano político, porque corremos o risco de ver, nas próximas eleições europeias, o surgimento de forças políticas populistas que ponham em causa a própria ideia de Europa.
Face a estes riscos, não devemos ceder ao cansaço europeu. Nós devemos afirmar a nossa vontade de renovar, com o que se encontra no seio do projeto europeu e da sua ambição politica. Estamos convencidos: é, antes de mais, através da cultura, que se define a consciência europeia. É através da cultura que a Europa é uma realidade vivida aos olhos dos seus cidadãos e uma fonte de orgulho para os seus povos. E é, ainda hoje, nessa Europa, que os europeus se podem encontrar. Face às dificuldades, embora possa surgir a tentação de a afastar, só a cultura pode reunir, só a cultura pode ser o lugar onde se manifesta uma solidariedade renovada entre Europeus."
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