quarta-feira, 22 de maio de 2013

A paixão com efeito Kelvin

Faltar ao Dragão num jogo decisivo como este Porto-Benfica deixou-me maluca. Um mau entendimento das datas somado a umas visitas em Madrid impediram-me de ir ao clássico, que fruto do empate na jornada anterior do Benfica, em casa, se tornou decisivo para as contas do título.

Eu, como muitos portistas, confesso que já não acreditava que o TRI fosse possível. Depender do eterno rival, a jogar bem e motivado parecia-me algo difícil de ultrapassar. Fui sempre desejando um tropeção, uma perdida de pontos, principalmente no jogo da segunda circular e no dos Barreiros, coisa que como sabem, não aconteceu.

A esperança por isso, já era quase nula. Confiava num Porto que não perderia mais pontos e que ganhava em casa ao Benfica, mas não esperava que o Campeão do Funchal perdesse pontos em casa com o Estoril.

Confesso que apesar de os achar a jogar bem à bola esta época, (reconheci-o aos meus amigos benfiquistas) também andavam a ter a estrelinha (que de resto qualquer campeão necessita, é certo), como o número de bolas nos seus postes na Liga Europa.

Mas naquele dia, quando vi o Estoril a ganhar e a acabar o jogo com o empate, senti que a quebra do Benfica nos últimos jogos tinha finalmente sido materializada em pontos perdidos e...

Para o jogo do Dragão...um clássico entre duas grandes equipas, um jogo de emoções fortes em que tudo pode acontecer. Mas nunca, como há 3 anos achei que o Benfica pudesse fazer a festa no nosso Estádio.

O jogo foi sem dúvida intenso, emocionante, e o golo do Kelvin veio dar justiça a um Porto dominador. Ainda que não tivéssemos visto oportunidades de golo flagrantes para nenhuma das duas equipas, vi um Porto superior. Ninguém viu o Benfica a entrar no jogo para sentenciar um campeonato.

Viu-se um Benfica a jogar para o empate, com inúmeras perdas de tempo, num anti jogo que um Campeão não pode fazer. Todas as equipas o fazem em determinados momentos, mas uma equipa que pode acabar o jogo a levantar um título não. Tinham que tentar (tentar) vir com tudo para cima de nós, coisa que não fizeram.

E já sabemos que quem joga para o empate arrisca-se a perder. Fomos os únicos que quisemos ganhar o jogo. Por felicidade e por termos mais vontade que eles assim o conseguimos.

Aquele momento é indescritível. É isto que nos faz a nós gostar de futebol. Da imprevisibilidade e da beleza do jogo até ao último segundo.

Que pena não ter estado no "inferno" do Dragão. Em Madrid foi bom, num restaurante português, cheio e com os portistas em maioria...mas no Dragão consigo imaginar como foi e tenho inveja boa de quem lá esteve.



Indescritível também a imagem dos joelhos do Jesus e das lágrimas do nosso treinador, representações óbvias da paixão que os move, e da paixão que se sente nestes clubes e neste clássico.

O futebol é mesmo o melhor espectáculo do mundo.

E dali, daquele inesperado momento a certeza que na Mata Real o TRI não nos ia fugir. Quanto ao penalti que dizem não existir, só o Porto jogou ali para ganhar, não ia mudar nada no resultado final. Somos uns justos vencedores da Liga, que para quem não sabe, acaba à 30º jornada.

P.S: A esses que falam de irregularidades (lembraram-se à última jornada) que se lembrem agora das Capela´s esquecidas, do Estoril Gate ou de como de forma irregular noutros tempos se impediu o melhor jogador da Liga de jogar por 17 jogos.

terça-feira, 21 de maio de 2013

Barack

Os olhos estavam postos em Washington naquele 20 de Janeiro de 2009. Tomava posse o primeiro afro-americano presidente dos Estados Unidos. O discurso, a novidade, e a esperança no trabalho do novo líder americano deixavam o mundo expectante e ansioso.

Em foreign policy, ansioso por resoluções no Afeganistão e no Iraque, pelo desarmamento nuclear no Irão, pelo encerramento da prisão de Guantanamo...


Como Presidente, durante estes últimos anos, e em questões internas, Obama criou políticas de impulso económico como a Lei de Reinversão e Recuperação de 2009, a Lei de Criação de Emprego, a reautorização do seguro de desemprego em 2010. Outras iniciativas políticas domésticas incluíram a Lei de Protecção ao paciente e os cuidados de saúde, o famoso Obamacare. Em finanças criou a Lei Dodd-Frank de protecção aos consumidores, etc. 

Em política internacional, acabou mesmo com a guerra do Iraque, anunciou este ano a retirada das tropas do Afeganistão para 2014, assinou o novo tratado START III de controlo de armas com a Rússia e ordenou a intervenção militar na Líbia de Kadafi em 2011. No mesmo ano anunciou a morte de Bin Laden, outro dos seus grandes desafios.

Para este segundo mandato, Obama quer expandir o seu programa de saúde, uma das suas grandes vitórias. Quer legalizar ainda o casamento homossexual, que ainda só é possível em alguns estados. 

A reforma migratória também é prioridade, assim como a lei das armas que há pouco tempo foi negada pelos republicanos no Senado. A lei consistia numa maior verificação antecedentes criminais dos compradores de armas. A oposição tem sido um osso duro de roer para o presidente nas tomadas de decisões. Assim se previa.

Em matéria exterior, uma maneira de forçar a negociação com o Irão para o desarmamento seria arrebatar o seu grande aliado na zona: a Síria. No entanto, a tentativa de obter uma resolução no Conselho de Segurança contra o regime e acabar assim com a guerra não deu frutos, devido a oposição da China e da Rússia, que não querem intervenção como a que ocorreu na Líbia. A solução que se via há uns meses seria a de Obama tentar oferecer saída a  Bachar Al Sad e garantir uma transição no país. Mas a situação só tem piorado, e não há solução à vista. Também de Obama, neste segundo mandato, ainda se espera um papel mais activo no inexistente processo de paz entre Israel e a Palestina. 

No meio de algumas vitórias e de algumas tardias decisões a popularidade de Obama vai caindo há já algum tempo. 


E somado a isto, os escândalos das últimas semanas não têm ajudado. Já este mês, o Presidente dos Estados Unidos, anunciou a demissão do director do departamento de impostos, Steve Miller, devido à discriminação fiscal contra os grupos republicanos conservadores conhecidos por Tea Party. O assunto obrigou Obama a falar em público para defender a sua Administração das críticas sobre a matéria e ainda sobre a acusação de espionagem à agência Associated Press. O Departamento de Justiça recolheu registos de chamadas de 20 linhas telefónicas de jornalistas da agência.

As relações com a Rússia também estão frias. A semana passada as autoridades russas emitiram uma ordem de expulsão contra um diplomata da CIA que tentava recrutar agentes russos.

A isto junta-se ainda aquele atentado na Líbia, em 2012, que resultou na morte do embaixador americano. Terá sido mesmo premeditado?


A vida não está fácil, mas também ninguém disse que o ia ser. 

A propósito num artigo do Foreign Policy do dia 20 de Maio:

"The relentlessness of the job, the 24/7 pace of the media, the complexity of the tasks at hand, and the sheer number of moving parts creates a situation no single individual can manage. Add to this a polarized Congress and an integrated world that America can't control, it's no wonder the presidency is an impossible, perhaps implausible, job.
The current headaches Obama confronts at the State Department (Benghazi), at Treasury (IRS targeting conservative groups), at Justice (the seizure of Associated Press phone records), and Defense (sexual harassment) may well represent a bad combination of mismanagement and bad luck. But they also reflect the reality that Obama, to paraphrase Ralph Waldo Emerson, is not a master of all he surveys. The presidency is just too big and complicated for that. "

(...) 

"What to do? Just get over it. Lower expectations. Don't give up the search for quality leaders, but be honest about what a president can and cannot do. Don't wait around to be rescued by The One -- that's not the American way. Maybe by controlling our presidential fantasies, we can stop expecting our presidents to be great, and allow them to start being good."

Também sobre a presidência de Obama esta semana no Folha de S. Paulo: 

"Grampos a jornalistas, investigações fiscais a opositores políticos, incompetência (e possível encobrimento) nos atentados da Líbia: qualquer um dos escândalos chegava e sobrava para definir uma Presidência. Os três juntos, para acabar com ela. Isso, claro, se Obama fosse um político como os outros.

Não é. Em 2008, os americanos não elegeram apenas um presidente. Eles canonizaram em vida um homem que já virou santo. E os santos não pertencem mais a este mundo."

domingo, 5 de maio de 2013

Tripeiro eu sou! Sobre a Primeira Final Europeia. (2003)

Como adepta de futebol e do Porto já tive muitas tardes, noites, e até mesmo manhãs inesquecíveis. Muitos jogos, muitos golos e muitos festejos que me fizeram sorrir, cantar e gritar até não poder mais.

Não me consigo lembrar da primeira vez que fui ao Estádio das Antas, mas consigo recordar as tantas vezes que saltei aqueles torniquetes para entrar e ver o jogos com o meu pai. Na altura, o meu "lugar" era na arquibancada e está claro, que eu com os meus 9, 10 anos, não ia pra lá sozinha.

Desses dias é impossível esquecer o estacionamento na bomba da Fernão de Magalhães, o prego no Scala, ou na Velazquez, a bilheteira das Antas. Nos clássicos, a ida mais cedo... para ver o ambiente e o autocarro a chegar. Que boas recordações daqueles "Porto-Benfica", em que sempre começávamos a perder mas que era certo que a vitória (não a águia) no fim nos esperava.

Que saudades da Festa do Penta, (ainda tenho a mão de papel que o JN ofereceu nesse dia), das apresentações e da dança do Dragão que ainda hoje nos visita.

Das noites europeias em que não me queriam deixar ir (como se eu me importasse com as aulas do dia seguinte :p ). Era sempre melhor levar o sorriso de vitória no dia seguinte para a escola.

Ainda tive a sorte de poder ver jogar o Domingos, o Rui Barros, o Drulovic, o Aloísio, o Paulinho Santos. Ou que bem me lembro dos golos do Jardel, e das tardes em que ele marcava quatro golos e ia ao microfone dizer alguma coisa como "só mais um, com assinatura de Jardeu".

Das fintas com os dois pés do Deco, aos tiros do McCarthy chegamos à qualificação para Taça Uefa da época 2002-2003. Foi o melhor mesmo dessa época desastrosa de 2001-2002.

Do caminho até Sevilha, aquele Porto- Panathinaikos em que ficamos todos a aplaudir a equipa no fim do jogo, e em que o Mourinho nos pediu calma, querendo dizer que a eliminatória ainda não tinha acabado.

Umas semanas mais tarde, a meia final, e muito provavelmente o melhor jogo que vi do Porto. Um dilúvio e uma noite mágica no inferno das Antas. Espectáculo como há muito não se via e uma goleada á Lázio do Mancini.  (Aquela aula de francês que não acabava para arrancar para o Porto!!).

Daí até Sevilla foi um instante. A procura de bilhetes foi difícil mas por fim lá consegui o quadradinho mágico. Eu queria ir àquela final, são coisas que podem acontecer uma vez na vida. Mas por sorte, um ano depois já estava noutra.

Ver a nossa equipa numa final europeia é o sonho de qualquer adepto, e como devem calcular a ânsia na véspera desse 21 de Maio de 2003 tomou conta de mim.

Tudo foi preparado ao pormenor, a roupa, os acessórios, o cachecol de sempre, e os avisos aos professores de que ia faltar às aulas. Ir ao estrangeiro com 13 anos ver um jogo de futebol tem que se lhe diga.

Chegado o grande dia...e depois de ver um Sá Carneiro vestido de azul e branco, aterrei em Sevilla cheia de confiança. Lá, um calor de morrer. Uns 40 graus em Maio.

Tudo foi uma aventura... a entrega dos bilhetes num café movimentado (medo!) um beijinho à Sónia Araújo e a o Jorge Gabriel que em directo, apresentavam a Praça da Alegria desde a Catedral da cidade, uns escoceses a nadar em cerveja, mas sempre muito simpáticos...

Se não há como descrever na perfeição o que foi o dia e o ambiente na cidade, mais difícil é escrever sobre as emoções vividas no Estádio.

Uma cerimónia bonita para começar...e umas sevilhanas a dançar. Cerimónia digna de um grande espectáculo e de uma grande final, como nunca tinha tido oportunidade de ver.

Depois dar uma mãozinha aos Super Dragões a distribuir cartolinas azuis. Ali todos somos uma equipa.
E depois... depois o jogo que como toda a gente se deve lembrar foi de tudo menos tranquilo. Muitos nervos, muito stress, e uns golos do Larson que nem davam tempo para festejar direito os nossos.

Mas bem lá no fim dos 120 minutos apareceu o segundo golo do Derlei. E o Mourinho de joelhos a chorar.

Ao meu lado sorrisos, lágrimas de felicidade e uns minutos intermináveis até ao apito final.

No fim, muita festa, um incrível fair play por parte dos adeptos do Celtic e umas tantas horas no chão do Aeroporto de Sevilla até voltar a casa. Valeu a pena.

Mais do que a caixa que me guarda os bilhetes e os cartões de sócio antigos... esta memória azul e branca tão preenchida, tão preenchida com coisas boas com momentos tão especiais.

http://www.youtube.com/watch?v=D7BcH-M5eds  (minuto 28)





Somos Porto!                                                              


Obrigada Pai! :p

Rita Pinto da Costa

quinta-feira, 2 de maio de 2013

O Fado e a Alma Lusitana

O Fado é nosso, o Fado foi criado por nós, o Fado é a nossa História.

O Fado é o nosso espelho, a nossa alma. O Fado é pureza e genuinidade.

O Fado é mistério, é segredo.

Que bem me lembro daquelas sextas feiras à noite, em Famalicão, em que ia com os meus pais jantar, com o Fado ao vivo como plano de fundo. Que bem me lembro de ouvir Fado na casa do Tio Quim.

Cresci a ouvi-lo, da mesma forma que foi crescendo a admiração que por ele nutro. Certamente que em miúda não era o meu estilo de música preferido, dos que fazia questão de ouvir, mas aos poucos fui me apaixonando pela inigualável guitarra portuguesa e ainda mais pela incomparável voz da Amália.

(Noutro dia vinha com o meu pai no carro a jogar à adivinha, a tentar decifrar (numa compilação de FADO gravada nos anos 60) as canções que eram da Amália, e ainda que a voz tenha mudado, foi e será sempre inconfundível).

Jovens faditas, por favor, não tentem nunca imitá-la. Amália só houve uma.

Não sei se é por viver fora, mas acho que de facto, começam-se a sentir mais estas coisas... tão nossas e que tão pouco valor lhes damos. Não há nada que faça com maior prazer do que promover o nosso país.. falar aos amigos, do Fado, dos pastéis de Belém, da beleza de Lisboa, do Porto e do seu vinho, da Costa Vicentina, e não só.

Procuro a cada conversa mostrar que o País não é o Cristiano Ronaldo ou o Mourinho, que não é o abismo em que os nosso governantes nos deixaram. Temos tanto! Tanto para visitar, tanto para conhecer... E o clima? Ai o clima!

E quando me perguntam o que visitar? Acham mesmo que só lhes digo, Porto Lisboa e Algarve?

Não posso fazê-lo quando no Minho está a zona mais bonita deste país. Que bonito é Caminha, Viana, os Arcos, Ponte de Lima, já para não falar de Braga ou de Guimarães. Que saudades de conduzir para a Galiza e ver aquelas paisagens. :)

E Gaia, e Vila do Conde, e a Póvoa? E Viseu e Chaves? E Setúbal? E Sintra? E esse mesmo Alentejo que tem um mundo para explorar? Ainda conheço tão pouco... E uma vida não vai chegar para descobrir todos os encantos que temos para oferecer.

Para terminar...Da mesma forma que gosto de falar do meu país, das nossas gentes e das nossas pequenas conquistas não tolero quem fala de nós sem ter ideia do que está a dizer, sem nunca ter estado no nosso território. Não sei como aguentei sem dizer nada, ainda ano passado quando ouvi um anormal de um espanhol a falar do "bigode" das portuguesas (típico), as mais "feias da Europa" dizia esse hijo de puta. Como é possível que ainda se mantenha este estereotipo? Madre mía. Enfim.

Vamos tentar preservar e dar mais valor aquilo que juntos construímos e que nos dá forma, como país e como sociedade.

Esta semana cumpriu-se o 39º aniversário do 25 de Abril. Não deixemos morrer aqueles valores, inspiremo- nos no Salgueiro Maia, na canção do Zé, e acreditemos e lutemos sempre por essa liberdade e por essa democracia que há tanto queríamos e merecíamos.

Porque não há Troika, desemprego ou impostos que nos possam superar.

Deixo-vos umas fotos tiradas no passado mês de Março, da nossa bonita capital.



O Tejo.

Se uma gaivota viesse...

;)


"Lisboa menina e moça, amada, cidade mulher da minha vida..."  Carlos do Carmo - Lisboa


Fernando Pessoa sobre o Fado e a Alma Portuguesa 

Toda a poesia - e a canção é uma poesia ajudada - reflecte o que a alma não tem. Por isso a canção dos povos tristes é alegre e a canção dos povos alegres é triste.
O fado, porém, não é alegre nem triste. É um episódio de intervalo. Formou-o a alma portuguesa quando não existia e desejava tudo sem ter força para o desejar.
As almas fortes atribuem tudo ao Destino; só os fracos confiam na vontade própria, porque ela não existe.
O fado é o cansaço da alma forte, o olhar de desprezo de Portugal ao Deus em que creu e também o abandonou.
No fado os Deuses regressam legítimos e longínquos. É esse o segredo sentido da figura de El-Rei D. Sebastião.



O xaile dos meus afectos

""Não há reliquia mais linda que o xaile dos meus afectos ...Quem sabe se serve ainda para agasalhar meus netos " Amália Rodrigues - O Xaile da minha mãe